quinta-feira, 28 de junho de 2007

Liderança Compartilhada

Quanto mais a liderança fica centralizada nas mãos de uma única pessoa, menos a equipe se compromete com o resultado

Quanto mais dependente das decisões de um líder, mais vulnerável um grupo se torna. Nas famílias em que os pais decidem tudo, os filhos se transformam em presas mais fáceis dos traficantes de drogas. Treinaram tanto a vida inteira para dizer sim aos pais que não sabem dizer não às drogas. Quanto mais uma garota aprender a baixar a cabeça para os pais, mais se submeterá a um casamento em que será humilhada.

Nas equipes de alta performance todas as pessoas se sentem responsáveis pelo êxito ou fracasso do projeto. Os membros da equipe têm consciência de que precisam fazer acontecer e de que o poder está dividido entre todos. Isso quer dizer que, quanto mais evoluído for o grupo, maior consciência seus participantes terão de sua importância, de sua capacidade e, portanto, de que a equipe reúne condições de atingir o objetivo proposto.

Não é preciso ninguém mandar para as coisas acontecerem. Não é preciso policiar porque as pessoas se esforçam para obter resultados, têm noção da importância de seu trabalho e não precisam ser cobradas para cumprir o que prometeram.

O desempenho de uma equipe de cirurgia retrata bem essa idéia. Durante o planejamento da operação, o cirurgião-chefe apresenta a estratégia do que vai ser feito. Se lhe escapar algum detalhe, um assistente poderá chamar sua atenção. Todos se sentem responsáveis pelo resultado e podem dar 110% de seu esforço. Certamente o paciente é quem mais lucra, mas o ganho é geral, pois todos crescem nesse trabalho.

Um dos espetáculos mais lindos é a ação de uma equipe de cirurgia bem integrada. Às vezes, uma intervenção pode demorar mais de doze horas. Todos sabem o que fazer não apenas quando as coisas vão bem, mas principalmente quando ocorre alguma emergência.

O inverso também é verdadeiro. Quanto mais a liderança fica centralizada nas mãos de uma única pessoa, menos a equipe se compromete com o resultado. O maior obstáculo à implantação de uma equipe de alta performance é o chefe que não abre mão do poder de controlar. No fundo, pensa que as regras valem para os outros, e não para ele. Faz tudo para se sentir diferente dos demais, mas não percebe que sua ação destrói o moral da equipe.

Regras e metas têm de valer para todos – A centralização do poder é incompatível com uma equipe de alta performance. Alguém que centraliza o poder não inspira os profissionais campeões. Muitas vezes, um diretor comenta comigo: “Mas eu sou o diretor, tenho de manter o respeito”. Isso é um lixo para a organização. Diretores têm de servir mais do que os outros porque sua maior função é ajudar os demais a crescer.

Há uma história sobre Alexandre, o Grande, de que gosto muito e tem tudo a ver com a consciência de quem é líder e conhece o valor da cooperação. Alexandre conduzia seu exército de volta para casa depois da grande vitória contra Porus, na Índia. A região que cruzavam naquele momento era árida e deserta, e os soldados sofriam terrivelmente com o calor, a fome e, mais que tudo, a sede. Os lábios rachavam e as gargantas ardiam devido à falta de água. Muitos estavam prestes a se deixar cair no chão e desistir.

Por volta do meio-dia, o exército encontrou um destacamento de viajantes gregos. Vinham montados em mulas e carregavam alguns recipientes com água. Um deles, vendo o rei quase sufocar de sede, encheu um elmo com água e o ofereceu a ele.

Alexandre pegou o elmo nas mãos e olhou em torno de si. Viu os rostos sofridos dos soldados, que ansiavam, tanto quanto ele, por algo refrescante. “Obrigado, mas pode ficar com a água”, disse ele, “pois não tem sentido matar minha sede sozinho, e você não tem o suficiente para todos.” Devolveu a água sem tomar uma gota. Os soldados, aclamando seu rei, puseram-se de pé e pediram que o líder continuasse a conduzi-los adiante.

Quando estou trabalhando para uma empresa em que algumas pessoas centralizam todo o poder e inibem a iniciativa dos outros, geralmente chamo o presidente, apresento a situação e mostro que, se a regra não valer para todos, o trabalho não vai funcionar. Não é gostoso trabalhar de faz-de-conta com adultos. Melhor parar no início.

Se todos se sentem responsáveis pela meta, pela estratégia e pelo sucesso, têm de estar comprometidos com todo o processo. Uma pessoa na posição de chefia que não tenha a sensibilidade de participar do processo inteiro enfraquece o moral da tropa e serve de desculpa para os fracassos.

Volto ao exemplo da família com essas características. Todos precisam participar de cada atividade. Se o pai vai para a cozinha ajudar a fazer o almoço, quando pedir ao filho que ajude a pôr a mesa, o menino saberá que isso não é um castigo, é simplesmente o trabalho de um time de alta performance. Até a criança de cinco ou seis anos precisa estar envolvida no projeto da família, seja para uma viagem, seja para comprar uma casa nova. Essa sensação de participar de um projeto é que gera na criança a noção de sua importância e de sua capacidade de realizar uma meta.

Experimente pedir a seu filho pequeno para ajudar a levar as compras do supermercado para dentro de casa. Você vai perceber seu orgulho de colaborar com os pais. Esse é o melhor início para a construção de uma sólida auto-estima.

Numa empresa que se propõe a implantar um projeto de qualidade total, todos os participantes precisam considerar cada etapa do processo como algo que depende de seu comprometimento para o sucesso final. Isso é ótimo, mas tem um preço: conquistar cada pessoa do grupo, convidando-a para a elaboração e a realização do projeto. Assim, todos se sentem responsáveis não só pela própria atuação, mas também pela participação do companheiro.

No Japão, algumas empresas têm um costume muito interessante. Quando um trabalhador é homenageado, pede para sua equipe se levantar e a convida a receber o troféu ou a medalha junto com ele. Assim, está demonstrando ter consciência de que, se não fosse sua equipe, não estaria sendo festejado.

Por outro lado, a equipe também assume a responsabilidade por eventuais falhas de algum elemento do grupo. Se o departamento de vendas chama o chefe às falas após um trimestre ruim, todos se levantam, e isso significa: “Sabemos que, se tivéssemos feito nosso trabalho de maneira mais produtiva, nosso companheiro não estaria recebendo essa crítica”.

São atitudes como essa que reforçam a integração do grupo. Tenha certeza de uma coisa: quando as pessoas estão integradas e conscientes de que a responsabilidade é de todos, a empresa se desenvolve e superam os próprios limites.

http://www.40graus.com/artigosrh/colunas_ver.asp?pagina=&idColuna=553&idColunista=47&titulo=

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