sexta-feira, 24 de agosto de 2007

9 Passos para você avançar na carreira

Por Fabiana Corrêa e Fernanda Bottoni

Nem MBA, nem faculdade de primeira linha. Virar chefe aos 25 anos? Também não. O que vai impulsionar sua carreira hoje é uma série de atitudes que qualquer pessoa interessada em ser feliz e bem-sucedida no trabalho deve tomar em qualquer profissão. Aqui estão implícitas todas as conquistas passíveis de serem alcançadas com uma trajetória profissional consistente. Fazer o que mais gosta, ganhar dinheiro e aproveitar, da melhor maneira possível,o pequeno tempo que sobra de folga com conforto e prazer entre a família ou amigos.

Para concretizar tudo isso, pense logo se o trabalho o satisfaz. Ao menos,na maior parte do tempo. Só assim você vai ter ânimo para dar os próximos passos descritos aqui. Você só cresce se for feliz, diz Sérgio Valente, de 43 anos, presidente da DM9/DDB no Brasil. Quando concedeu esta entrevista, Sérgio estava na sede da Omnicom, a holding dona das redes DDB, BBDO e TBWA, nos Estados Unidos. Foi fazer um curso dado a poucos presidentes das subsidiárias ao redor do mundo. Ele é um exemplo do que iremos falar: fazer mais do que o cargo pede e se desenvolver naquilo em que não é exigido pela empresa.

Sérgio estudou engenharia civil e administração, já foi cantor em casa noturna, fez carreira como redator e foi vice-presidente de criação.Trabalho tem que ser a expressão de seu potencial. Enxergue sua carreira assim e você vai procurar, além de suas funções, coisas que ama para fazer dentro e fora da empresa, diz Tania Casado, professora da Universidade de São Paulo (USP). Se você já está no caminho certo, fica mais fácil realizar os movimentos listados a partir de agora.


1. SEJA MULTI

A postura de interessar-se por outras atividades, além de sua formação original, de envolver-se com tarefas diferentes, que não tenham a ver com sua área e fazer com que todas elas interajam, é chamada de carreira transdisciplinar pelo psicólogo José Ernesto Bologna, fundador da consultoria Ethos Desenvolvimento Humano e Organizacional, de São Paulo. Essa é uma característica que, cada vez mais, define a imagem do profissional de nosso tempo.Nos anos 90 veio a era da produtividade. Acabou aquela história de cada um fazer o seu trabalho e começou a história da polivalência, diz Tania. Essa necessidade evoluiu para um novo comportamento corporativo. Estimulados pela própria necessidade de mudanças constantes na carreira e na estrutura das empresas, que agora permitem funcionários de diferentes áreas e países se envolverem em um mesmo projeto, os profissionais estão se tornando transdisciplinares. As diferentes áreas e tarefas começam a se misturar dentro da mesma profissão, cada uma influenciando a outra, diz José Ernesto (leia mais do pensamento dele em uma entrevista exclusiva nesta edição).

Se não for possível para você expandir sua atuação dentro da mesma companhia, o mercado está aí para resolver isso. Ele permite, mais do que nunca, que profissionais transitem por áreas diferentes, hoje vistas como complementares. Formado em química, Maximiliams Yoshioka, de 37 anos, deixou uma carreira técnica de 14 anos na Dow Química para assumir uma área de vendas na Rhom and Haas, multinacional do mesmo mercado. Hoje, quatro anos depois, é gerente de contas na empresa e ganhou responsabilidade sobre três países da América Latina. Se, por acaso,meu departamento passasse a não existir, seria capaz de trabalhar em outra área porque me interesso pela empresa como um todo, diz Maximiliams.

Mariana DAprile, de 27 anos, hoje diretora do Hub, o núcleo de inovação da agência de publicidade LewLara, de São Paulo, também migrou, mas dentro da mesma empresa. Ela começou no atendimento, mas sempre mostrou interesse e dedicação a tudo o que tinha a ver com internet e tendências. Assim, quando seu chefe assumiu o novo departamento, levou Mariana junto. Quando saiu, deixou-a como sucessora. Meu papel não é apenas ficar ligada nas tendências de moda, consumo e comportamento, mas pensar em como elas podem se transformar em negócios para a agência.

2. FAÇA-SE NOTAR

Normalmente, as próprias ações descritas acima já fazem com que você ganhe notoriedade internamente. Se esse não é o caso da sua empresa, talvez você tenha de encontrar outros meios. Interagir com pessoas-chave na companhia, oferecer-se para fazer o trabalho que não seria seu e cuidar bem da equipe são boas maneiras de se fazer notar. Quando entrei aqui, estudei e li tudo o que era publicado sobre a companhia, diz Adriano Chemin, de 40 anos, vice-presidente de vendas indiretas da Oracle,multinacional da área de tecnologia, em São Paulo. Foi dessa maneira que ele se transformou em referência. As pessoas começaram a me procurar para saber das novidades, diz. Adriano mostrou trabalho, foi promovido a gerente de vendas regional e chegou à vice-presidência em oito anos. Eu obtive visibilidade ajudando quem precisava de ajuda, na área que fosse.

Claro, esse processo tem de ser baseado em competências e honestidade para chegar a todos os que trabalham ao seu lado (e acima de você). Tanto quem o apóia como quem compete pela mesma posição que você contribuem para a formação de sua imagem em duas esferas: na profissional e na comportamental e ética, diz Sérgio Valente, da DM9. Mostre suas idéias quando puder, mas nunca seja invasivo, ou você corre o risco de virar o chato. Essa é uma pecha que acaba com a ascensão de qualquer um, tanto quanto ser apagado demais.

3. COMUNIQUE-SE BEM

Chineses, investidores, ONGs, agentes do governo, membros da comunidade. Em épocas de negócios globais e sustentabilidade, comunicar-se ficou mais dífícil. E entender o que seus interlocutores estão falando também. A melhor maneira de fazer isso ainda é a informação. Leia, peça orientações a quem já fez igual, entenda o contexto em que estão as pessoas com quem você vai lidar.

Rodrigo Nasser, de 27 anos, gerente de relação com investidores (RI) da Totvs (lê-se Totus), holding de tecnologia, traz parte dessa informação de berço. Filho de professores (o pai, de história, e a mãe, de teologia), usa seus conhecimentos gerais para lidar com clientes internacionais. Quando preciso convencer ingleses a investir na empresa, sei que estou lidando com gente mais dada ao risco. É só olhar a história. Eles colonizaram meio mundo. Também não vou falar de futebol na Argentina, não quero parecer arrogante por uma bobagem, diz.
Aliás,Rodrigo, aos 22 anos, foi enviado ao país vizinho para avaliar uma das subsidiárias que deveria ser vendida. Suas opiniões sobre essas e outras operações acabaram valendo um lugar nas reuniões exclusivas de diretoria.Aproveito para aprender como se comunicam, se comportam e se colocam em público.Ou seja, ele fica atento também à comunicação não-verbal.

Alessandra Almeida, de 36 anos, gerente de operações da SAP, em São Paulo, que já foi uma garota bem tímida, aprendeu a se colocar em reuniões e hoje não tem dificuldade de prender a atenção das pessoas enquanto expõe suas opiniões. O primeiro passo foi dado na infância, quando subiu ao palco para apresentações de música. O segundo foi, já adulta, na própria SAP, onde está há dez anos. Como consultora, estava cada dia numa empresa, com um público diferente. Isso me obrigou a me expor mais, afirma. O terceiro, e decisivo, foi a formação. Fiz cursos na área de comunicação e e liderança para entender os modelos mentais de cada pessoa e a melhor forma de falar com elas.


4. ENTENDA DE FINANÇAS

Você pode considerar esse assunto uma chatice, mas, se quer crescer na companhia e se fazer notar, não tem muita escolha.Ainda mais em tempos em que corte de custos virou regra.É essencial traduzir a equação do lucro e fugir do jargão financeiro.Considero o contrário um grande obstáculo de carreira, diz Augusto Carneiro, diretor da Zaitech, empresa de coaching do Rio de Janeiro. Procuro entender de toda a operação da empresa, principalmente da área financeira, diz Jeferson Fernandes, de 32 anos, gerente de planejamento logístico da Unilever e um dos ganhadores do programa CEO do Futuro (que escolhe executivos de talento com alto potencial para chegar à presidência da empresa. Inscreva-se no prêmio no site http://www.vocesa.com.br/).

Esse aprendizado de finanças começa no dia-adia. Quem não tem medo de perguntar e gasta algum tempo ao lado do gerente financeiro logo vê que aquele monte de números tem sentido. Até hoje ligo para meus professores dessa área que me esclarecem muitas dúvidas, diz Rodrigo, da Totvs, que cursou administração de empresas na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.O coaching financeiro de Rodrigo é uma saída que muitos profissionais encontram para entender do assunto. Não duvide: se você seguir os passos dele, será notado com mais facilidade.

5. FAÇA AS PERGUNTAS CERTAS
Essa necessidade de entender o balanço pode ser suprida quando você aprende a perguntar o que é essencial para desenvolver seu trabalho.Você tem que ser hábil para fazer as perguntas que têm relevância, diz Adriano Lima, de 40 anos, vice-presidente de estratégia e planejamento para a região sul da América Latina da Mastercard. O executivo deixou há poucos meses a área de RH,em que atuou por 20 anos, para desempenhar a nova função na companhia.Se você diminuir o fator surpresa com perguntas que tentam prever o futuro, pode planejar melhor a ação, afirma. Desde de que entrou na Mastercard, ele perguntou mais do que os assuntos de sua competência nas reuniões de diretoria da empresa.Eu me colocava como um executivo de negócios que estava no RH. Assim poderia entender da empresa inteira e contribuir mais com meu trabalho. Quem também faz isso é Jeferson, da Unilever.Sempre começo uma reunião pelas questões: quanto o projeto vai economizar e quanto vai lucrar, diz.Ouvir bem o que estão tentando lhe dizer também é importante, além de escolher o interlocutor correto. Você tem de saber com quem falar quando precisa de uma resposta.


6. CUIDE DO SEU TEMPO
Para dar os cinco passos anteriores e os próximos, só dominando a própria agenda.Para isso, há uma série de técnicas de administração do tempo que você pode implantar em sua vida (entre no portal Você com Mais Tempo, em nosso site, e use nosso gerenciador de tempo online).Christian Barbosa, dono da Tríade do Tempo, consultoria especializada no assunto, dá algumas dicas de como aproveitar o fim de semana para fazer um esboço da agenda semanal, com todas as tarefas e hora para cada uma começar a terminar. Você deve deixar duas horas livres para emergências.

Há ainda um aprendizado essencial para quem ainda não tem um clone, mas adoraria ter: delegar bem. Se eu não tivesse uma equipe capaz de tomar decisões, meu trabalho ficaria inviável, diz Pedro Fontes, de 30 anos, country manager da Corel do Brasil. Em 2007, Pedro passou a comandar as operações da empresa no país.Trabalhando dez horas por dia, ele cursa MBA Executivo no Ibmec, em São Paulo, e ainda reserva espaço para falar com o usuário final, tarefa que considera essencial para obter resultados. Jeferson, da Unilever, aprendeu na prática.Vivia sobrecarregado, tentando fazer tudo.Percebi na marra que as pessoas eram capazes de fazer o que eu antes não delegava.

7. FORME UM (OU MAIS) SUCESSOR

Aprender a delegar leva, inevitavelmente, a formar um sucessor para quando você for chamado para subir na empresa.Faça isso continuamente e com antecedência, ou poderá perder uma boa oportunidade, explica Silvio Celestino, diretor da consultoria Enlevo. Se não houver alguém para substituí-lo, é possível que sua promoção emperre. Um bom gerente de equipe é aquele que treina o funcionário para perdê-lo, diz Leonardo Zambitte, de 33 anos, gerente de processos de vendas da Xerox Europa. O executivo não pode ser prisioneiro de seu próprio sucesso, completa Fernanda Pomin, sócia da Korn/Ferry Brasil, consultoria de busca de executivos. Para isso, você precisa ter autoconfiança. Se o seu sucessor conseguir resultados melhores que os seus, não se preocupe. É mais um ponto para você.Um líder que faz seu trabalho bem feito deixa, ao sair, um sucessor melhor do que ele, diz Silvio Genesini, presidente da Oracle no Brasil.


8. ANTECIPE-SE AO FUTURO
Preparar alguém para substituir você é uma maneira de prever o futuro.Mas há outras tão importantes quanto. Você tem que prever para onde o mercado e a empresa estão indo, assim poderá direcionar melhor sua carreira, diz Silvio Celestino. Ficar atento à legislação e às regras que regem o comércio mundial é uma maneira de ser esse visionário a que o coach se refere.Adicionar 2% de biodiesel ao diesel, como manda a legislação, por exemplo, cria um mercado de 5 milhões de reais para o novo produto no país, explica.Assim é possível prever que esse mercado vai se movimentar a partir daí, abrindo novas oportunidades de carreira. A estratégia da empresa é apresentada a todos os funcionários, mas eu junto essa informação com tudo o que ouço sobre ela e observo seus últimos movimentos. Daí traço meus objetivos de carreira, diz Rodrigo, da Totvs.

9. ENCONTRE UM MENTOR

Tudo o que falamos aqui fica mais fácil quando há um profissional experiente e de peso para orientá- lo.Meus mentores me ajudaram a perceber que eu havia encerrado um ciclo, diz Adriano,da Mastercard, que ouviu o que eles tinham a dizer sobre a migração que fez do RH para a vice-presidência de negócios. Para encontrar o seu, a aproximação tem que ser natural. Identifique, ao longo de sua carreira, alguém em quem você confia, que seja bom em dar conselhos e tenha visão estratégica.O mentor, indiretamente, vai ajudar sua carreira a ser reconhecida.Ter a credibilidade referendada por alguém de peso, que sabe o que você agrega, é essencial para seu crescimento profissional, diz Stella Angerami, da Counselling by Angerami,empresa de consultoria de carreira de São Paulo.

Se você já encontrou um mentor, ele vai confirmar que seguir todos esses passos ao mesmo tempo não é fácil. Só que não dá para ignorar nenhum em boa parte das carreiras. É bem mais simples quando você não encara seu trabalho como uma pena a ser cumprida, diz a professora Tania Casado, da USP. Ou seja, ao começar a agir não veja cada passo como mais uma tarefa a ser eliminada da lista. Prefira lidar com eles como algo para ser incorporado ao dia-a-dia. Tão importante quando segui-los, é encontrar um jeito de fazer tudo com prazer, já que poucos profissionais podem crescer hoje ignorando esses desafios.


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